8.06.2009

O vento de agosto desprendia fuligem das telhas,
que caia no chão de tijolo, coberto de rubra cera.
A um canto da cozinha, o fogão reinava absoluto,
pleno da luz do fogo na sua alma enfumaçada.
Na pele, a cobertura de negror de luto.

A lenha já queimada jazia em carvão incandescente,
sem chama, brasa apenas, e estalava, estalava.
Um cinzeiro farto e aconchegante as abrigava.
O tacho na chapa quente segurava a colher de pau,
cansada de mexer e remexer o doce de goiaba.

Havia ainda o café no bule, o leite requentado.
O aroma da carne assada impregnava o casarão.
Do teto, em cordões, pendia a carne de porco,
por meses e meses, em demorada defumação.

Era cálida a tarde de inverno naquela cozinha.
Era silencioso o descansar do fermento na massa do pão.
Era de silêncio também a espera no meu coração,
pelo amor que se consumia sem chama, como o carvão.

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