NO SILÊNCIO DOS JARDINS
Se um dia
regressares, a terra estremecerá na memória de tua ausência. E a água formará
um vasto oceano no outro lado do teu olhar.
Regressarás, talvez, quando o ar
se tornar rubro em redor do meu sono – e o lume das horas, a pouco e pouco
saciar a boca que clama pelo teu nome.
Encontrar-nos-emos nas imagens
deste jardim de afectos e de ódios. Porque os jardins são labirínticas
arquitecturas mentais, onde podemos resguardar os corpos de qualquer voragem do
tempo.
Por isso, enquanto não regressas,
construo jardins de areia e cinza, jardins de água e fogo, jardins de répteis e
de ervas aromáticas, jardins de minerais e de cassiopeias – mas todos abandono
à invasão do tempo e da melancolia.
Mas se um dia regressares, passeia-te
por dentro do meu corpo. Descobrirás o segredo deste jardim interior – cuja obscuridade
e penumbra guardaram intacto o nocturno
coração.
Al Berto
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