5.15.2016

NO SILÊNCIO DOS JARDINS

              

              Se um dia regressares, a terra estremecerá na memória de tua ausência. E a água formará um vasto oceano no outro lado do teu olhar.
              Regressarás, talvez, quando o ar se tornar rubro em redor do meu sono – e o lume das horas, a pouco e pouco saciar a boca que clama pelo teu nome.
              Encontrar-nos-emos nas imagens deste jardim de afectos e de ódios. Porque os jardins são labirínticas arquitecturas mentais, onde podemos resguardar os corpos de qualquer voragem do tempo.
              Por isso, enquanto não regressas, construo jardins de areia e cinza, jardins de água e fogo, jardins de répteis e de ervas aromáticas, jardins de minerais e de cassiopeias – mas todos abandono à invasão do tempo e da melancolia.
              Mas se um dia regressares, passeia-te por dentro do meu corpo. Descobrirás o segredo deste jardim interior – cuja obscuridade e penumbra  guardaram intacto o nocturno coração.

Al Berto

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