2.25.2008

O tempo que mesmo deixando marcas
Passa ligeiro
Levantando queixas de como tudo é tão breve
Implacável, alonga a tua ausência
Enlouquece as estações
E fora de época, frutos amadurecem
No jardim, confusa uma flor resiste
Como a esperança que em mim, não fenece


Reinaldo

2.20.2008

Foi sem querer que de repente,
o sol adentrou os meus aposentos.
Detrás de um véu branquíssimo...
conseguiu roçar a minha pele
e penetrou-me profundamente na alma.

Senti uma ternura de entardecer.
Fechei o cortinado dos meus olhos
e transbordei-me naquele segredo...

Era um dia de sépia amarrotado.
Era um dia de se abrir janelas e...

Talvez faça sol.
Talvez faça amor.

Thany
Quando o ipê amarelo floresce
em rendas de fino gosto,
ao longo dos antigos trilhos,
é como se alguns bailarinos
da pintura de Matisse,
dançassem como protagonistas
desse singular balé de rua.
Dançassem sem música ou bilros,
dançassem como se ninguém pedisse.

2.15.2008


Alegria

2.12.2008

Nasci na noite
em que dissipavam vaga-lumes.
Tive por berço
a terra eivada de grilos.
Cresci como lagarta
e ninguém ouviu meus gritos,
no instante que desvencilhei de mim
para despertar ninfa.

Colori-me de azul em azul
quando alguém soletrou meu nome
com notas musicais.
Habito agora esta cela
de cimento e mofo.
Pelas grades dos temporais,
um homem de granito
me beija o rosto.

2.09.2008

Crepuscular

2.07.2008

O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos
E foi morrer na gare de Astapovo!
Com certeza sentou-se a um velho banco,
Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso
Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo
Contra uma parede nua...
Sentou-se ...
e sorriu amargamente
Pensando que
Em toda a sua vida
Apenas restava de seu a Glória,
Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas
Coloridas
Nas mãos esclerosadas de um caduco!
E entao a Morte,
Ao vê-lo tao sozinho àquela hora
Na estação deserta,
Julgou que ele estivesse ali a sua espera,
Quando apenas sentara para descansar um pouco!
A morte chegou na sua antiga locomotiva
(Ela sempre chega pontualmente na hora incerta...)
Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho,
E quem sabe se até não morreu feliz: ele fugiu...
Ele fugiu de casa...
Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade...
Não são todos que realizam os velhos sonhos da infância!

Mário Quintana

2.04.2008


Meu nome é Zé Criatura de Deus.
Moro de bom grado,
sem colchão e sem estrado
no varandado da gare vazia.

Sustento no peito
à moda de fieira
meus santos protetores
e guardo na algibeira
a vela e a pedra,
o fumo e a palha
o pão murcho
e um pouco de medo.

A fonte da praça é lenitivo
onde mendigo
me banho e me assanho,
e arrisco o olho esquerdo
pra morena que passa
com coxas em desabrigo.

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