5.25.2010

PRESENÇA


Não sei há quanto te espero
mas eis que chegas
como a febre na madrugada,
a surpreender o corpo frio
com suores e estertores
de enfermidade e possessão.

Despertas-me
com o açúcar de quem beija
e com o sal de quem navega.

És alucinação.
Doença incurável na cicatriz
que de dor lateja.
És chama à mingua
na mecha que ainda fumega.

5.20.2010

SAGRAÇÃO

Tu me deste a mão,
dois degraus acima e pediste:
Vem, subamos
até onde moram as estrelas !
O toque de nossos dedos
nos fez únicos:
tu o rei, eu a majestade,
tu a vontade de partir eu a saudade...
Tu a correnteza,
eu o murmurar das águas.
Tu o sorriso, eu o porta-retratos.
Subamos!
Unge-me com teu sal e tua essência,
até que sejamos um só,
fotografia singular:
tu o impulso, eu o flanar de asas,
tu a luz que norteia,
eu a Via Láctea.

5.17.2010


5.07.2010

(m)ÁGUAS

Deixa o rio correr
limitado pelas margens
beijado pelas vargens
no desconforto da descida,
sem desvio, afluente ou porto,
e lembra sempre
que mãos atadas
não impedem a despedida.

Deixa o rio correr
e não esqueças
que mágoa é apenas rima de água
e não subsiste jamais
onde o leito é ancho
e o peito amplo de perdão.

5.05.2010

LENITIVO

O que me põe aqui
em meio a um jardim que não floresce,
ou à frente da semente que não vinga?
O que me faz perder as horas,
indiferente,
como se soubesse do fim à míngua?
Por que me dói deixar o caos,
como ao cais o navio que singra leve?
Por que essa permanência no desconforto,
que me põe atenta ao inexistente?
Talvez ainda espere...

5.04.2010

CONFINAMENTO

Erguem-se os muros mudos e frios.
Ao vento rangem os cataventos.
Sinto um aperto no peito
vindo do apito dos trens e
do dobre dos sinos.
A saudade confinada
põe a face no tempo
e corre livre
como pássaros e meninos.

5.01.2010



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