11.27.2008

A suavidade com que ele ouvia a noite
era para a noite o próprio algoz,
pois a noite não se alimenta de coisas suaves.

11.26.2008

Passo o tempo a olhar,
a folha em forma de concha,
que sustenta os pingos da chuva,
até quarenta e três.
Depois, pesada,
derrama os pingos de uma vez
na terra encharcada...

Como menino a brincar na bica
a folha repete o gesto,
enquanto estou por perto...

No vai e vem do verde, ouço
os quarenta e três conselhos
que o pensamento dita,
e vou anotando à tinta,
no papel vermelho
que a chuva insiste em manchar...

11.21.2008

orada

11.18.2008

Segunda
De poetas e filósofos tu sabes,
sabes também por ti.
Por isso eu digo : esta pedra é vermelha,
esta pedra é sangue.
Toca-lhe :
saberás como em segredo florescem
as acácias ao redor dos muros,
como fluem suas concêntricas artérias.
Acaricia-as : tocas a parte mais sensível de ti mesmo.
Dizias ontem que o verão ardia nesta pedra.
Nela queimavas tuas mãos.
Onde as aqueces hoje?
Eu digo : o verão não morreu, esta pedra é o verão.
E tudo permanece. E tudo é teu.
Tu és o sangue, o verão e a pedra.

Albano Martins

11.15.2008

Na noite de luar,
a poesia cobre-me com seus trapos
e a incômoda linha de um farrapo
insiste em provocar o verso.

Pedinte, estendo-lhe a mão.
rogo,
por misericórdia de Pessoa
que me venha o abrigo,
o albergue da inspiração...
a água quente...
o leito macio...

E vou assim,
esgarçando o texto com reticências
para ter idéia da minha idéia,
difusa...
confusa...
e mendiga,
à espera de um poema

que convença...

11.14.2008

Para enxergar claro, bastar mudar a direção do olhar.
Só se vê bem com o coração.

O essencial é invisível para os olhos.

Antoine de Saint-Exupéry

11.12.2008

Tens uma paleta a que faltam algumas cores. Talvez porque há substâncias a que não soubeste dar expressão. Ou porque elas são incolores. Ou porque em toda a realidade há fendas que nem pela palavra, nem pela cor, alguma vez saberás aprender.

Albano Martins

11.10.2008

azul

11.09.2008

Assombra-me esse poema silencioso
que chega à porta do pensamento
(como envelope sem endereço)
e implora asilo.

Insinua-se na ponta do lápis
e a palavra, sua mensageira,
vacila um pouco prosa,
um pouco rosa,
sutil e reticente
como a sarça que arde
sem se consumir.

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