3.30.2009

Vou voltar por aquela rua
para ouvir
as avulsas melodias.
Hei de recolher
as falsas notas
percutidas no silêncio
e compor com elas
a canção do esquecimento.

3.27.2009


Há dez centímetros de silêncio
entre tuas mãos
e as minhas mãos.

Uma fronteira de palavras não ditas
entre teus lábios e os meus.

Mario Benedetti

3.24.2009

E se eu disser
que o intento do vento
em cobrir de cinzas
a brasa que ardia
tornou-se vão,
acreditarias?

E se eu disser
que o amor sem sustento
é irmão da loucura
e a palavra oculta
sob o silêncio
é tessitura da dor,
acreditarias?

E se eu disser
que é utopia de insones

o sonho perfeito
e o martírio virá
por mais que te dissipes
em ser rarefeito.


Mesmo assim sonharias?

3.23.2009

Um quarto de seis faces
testemunhava a solidão.
Do aparelho de som
a música ritmada
apunhalava as paredes.
A luz baça pendida do teto
deitava cor de névoa
na poeira dos vãos.

Há muito não dormias.
Tinhas sede
e gemias
tomado pela vasca
de alcançar o inatingível.

Nenhum vento perturbava
o ávido trabalho
de tuas mãos.

3.22.2009

Uma andorinha só
pousa sobre o terceiro fio elétrico
da pauta urbana.

Uma andorinha dó.

3.19.2009

O que se passou? Uma desolação; você quer mas não pode. Contudo, a poesia é maior que o poeta, e, quando ela vem, se você não a recebe, este segundo inferno é maior que o primeiro, o da aridez.

Adélia Prado

3.17.2009

Era tanto o seu recato
que o vento por desacato
agitava a roupa íntima
pendurada no varal
com movimentos de despudor

3.15.2009

Paradoxal.
Do veio ao mar,
açúcar e sal

3.14.2009

Tantas formas revestes,
e nenhuma me satisfaz!
Vens às vezes no amor,
e quase te acredito.
Mas todo o amor é um grito
desesperado
que apenas ouve o eco...
Peco
por absurdo humano:
quero não sei que cálice profano
cheio de um vinho herético e sagrado.

Miguel Torga

3.13.2009

3.12.2009

Quando pensava, era em forma de rimas, versos e metáforas. Quando rezava, preferia os mistérios dolorosos e maravilhava-se com a agonia do horto, o flagelo da cruz e a coroa de espinhos. Quando amava, tinha predileção pela nostalgia, pela desesperança, pela saudade e pelo abandono. Um dia a morte bateu à sua porta e êle a recebeu com desprezo. Amava a vida e era extremamente feliz.

3.11.2009

Cedo ou tarde
devias saber

que é sempre tarde
que se nasce, que é
sempre cedo
que se morre. E devias
saber também
que a nenhuma árvore
é lícito escolher
o ramo onde as aves
fazem ninho e as flores
procriam.


Albano Martins

3.09.2009

chão de atapetar pensamentos

3.08.2009

Quimera.
Preparo-te em samovar de prata
o chá das horas de espera...
para as outras meninas
o vapor da chaleira
era prenúncio
de chá de erva-cidreira

para mim
era sinal de navio em cais do porto
era aurora desgarrada
era vontade de partir

3.06.2009

moinho de versos
movido a vento
em noites de boemia

vai vir o dia
quando tudo que eu diga
seja poesia

Paulo Leminski

3.04.2009

deleite ouvir teus ecos,
mínimos sussurros.
reflexos

3.02.2009

dentro de mim
há um lado que liberta.
O outro é poeta...

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