Vou voltar por aquela ruapara ouviras avulsas melodias.Hei de recolheras falsas notaspercutidas no silêncioe compor com elasa canção do esquecimento.
Há dez centímetros de silêncio entre tuas mãos e as minhas mãos. Uma fronteira de palavras não ditas entre teus lábios e os meus. Mario Benedetti
E se eu disser
que o intento do vento
em cobrir de cinzas
a brasa que ardia
tornou-se vão,
acreditarias?
E se eu disser
que o amor sem sustento
é irmão da loucura
e a palavra oculta
sob o silêncio
é tessitura da dor,
acreditarias?
E se eu disser
que é utopia de insoneso sonho perfeito
e o martírio virá
por mais que te dissipes
em ser rarefeito.Mesmo assim sonharias?
Um quarto de seis faces
testemunhava a solidão.
Do aparelho de som
a música ritmada
apunhalava as paredes.
A luz baça pendida do teto
deitava cor de névoa
na poeira dos vãos.
Há muito não dormias.
Tinhas sede
e gemias
tomado pela vasca
de alcançar o inatingível.
Nenhum vento perturbava
o ávido trabalho de tuas mãos.
Uma andorinha só pousa sobre o terceiro fio elétrico da pauta urbana. Uma andorinha dó.
O que se passou? Uma desolação; você quer mas não pode. Contudo, a poesia é maior que o poeta, e, quando ela vem, se você não a recebe, este segundo inferno é maior que o primeiro, o da aridez.Adélia Prado
Era tanto o seu recatoque o vento por desacatoagitava a roupa íntimapendurada no varalcom movimentos de despudor
Paradoxal.Do veio ao mar,açúcar e sal
Tantas formas revestes, e nenhuma me satisfaz! Vens às vezes no amor, e quase te acredito. Mas todo o amor é um grito desesperado que apenas ouve o eco... Peco por absurdo humano: quero não sei que cálice profano cheio de um vinho herético e sagrado. Miguel Torga
Quando pensava, era em forma de rimas, versos e metáforas. Quando rezava, preferia os mistérios dolorosos e maravilhava-se com a agonia do horto, o flagelo da cruz e a coroa de espinhos. Quando amava, tinha predileção pela nostalgia, pela desesperança, pela saudade e pelo abandono. Um dia a morte bateu à sua porta e êle a recebeu com desprezo. Amava a vida e era extremamente feliz.
Cedo ou tarde
devias saberque é sempre tardeque se nasce, que ésempre cedoque se morre. E deviassaber tambémque a nenhuma árvoreé lícito escolhero ramo onde as avesfazem ninho e as floresprocriam.Albano Martins
chão de atapetar pensamentos
Quimera.Preparo-te em samovar de pratao chá das horas de espera...
para as outras meninaso vapor da chaleiraera prenúncio de chá de erva-cidreirapara mimera sinal de navio em cais do portoera aurora desgarradaera vontade de partir
moinho de versosmovido a ventoem noites de boemiavai vir o diaquando tudo que eu digaseja poesia Paulo Leminski
deleite ouvir teus ecos,
mínimos sussurros.
reflexos
dentro de mim há um lado que liberta. O outro é poeta...