4.29.2009

O lânguido passeio de pupilas amorosas,
o sorriso mole de lábios trêmulos,
o frêmito precoce do corpo que deseja
fazem-me tão vulnerável
como a linha que limita a praia,
como a ave que a ventania adeja.

4.27.2009


4.24.2009

mais nada se move em cima do papel
nenhum olho de tinta iridescente pressagia
o destino deste corpo

os dedos cintilam no húmus da terra
e eu
indiferente à sonolência da língua
ouço o eco do amor há muito soterrado

encosto a cabeça na luz e tudo esqueço
no interior dessa ânfora alucinada

desço com a lentidão ruiva das feras
ao nervo onde a boca procura o sul
e os lugares dantes povoados
ah meu amigo
demoraste tanto a voltar dessa viagem

o mar subiu ao degrau das manhãs idosas
inundou o corpo quebrado pela serena desilusão

assim me habituei a morrer sem ti
com uma esferográfica cravada no coração


Al Berto

4.21.2009

Meu canto é fechado.
Eu canto pra dentro
pra alegrar a alma,
essa moça abatumada,
que de tanto chorar poesia

e pensar fotografando,
não cabe mais dentro de mim.

4.18.2009


4.15.2009

vem a noite
sem escrúpulo
semear trevas
no crepúsculo
de sangue

em toda sombra
há o resto do dia
em toda árvore
silhuetas do medo
em todo medo
a canção do silêncio.

vem a noite
com suas nesgas de luz
onde vespas rodopiam
em serpentina

em todo olhar cerram-se
pálpebras cansadas
em todo beijo
o sabor da despedida
em toda palavra
semitons em surdina.

4.12.2009

(...) pinta; mas vê de que maneira pintas...
antes busques as cores da tristeza,
poupando o escrínio das alegres tintas;

- tristeza singular, estranha mágoa
de que vejo coberta a natureza,
porque a vejo com os olhos rasos d´água...

Olavo Bilac

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