O lânguido passeio de pupilas amorosas,
o sorriso mole de lábios trêmulos,
o frêmito precoce do corpo que deseja
fazem-me tão vulnerável
como a linha que limita a praia,
como a ave que a ventania adeja.
mais nada se move em cima do papel
nenhum olho de tinta iridescente pressagia
o destino deste corpo
os dedos cintilam no húmus da terra
e eu
indiferente à sonolência da língua
ouço o eco do amor há muito soterrado
encosto a cabeça na luz e tudo esqueço
no interior dessa ânfora alucinada
desço com a lentidão ruiva das feras
ao nervo onde a boca procura o sul
e os lugares dantes povoados
ah meu amigo
demoraste tanto a voltar dessa viagem
o mar subiu ao degrau das manhãs idosas
inundou o corpo quebrado pela serena desilusão
assim me habituei a morrer sem ti
com uma esferográfica cravada no coração Al Berto
Meu canto é fechado. Eu canto pra dentro pra alegrar a alma, essa moça abatumada,
que de tanto chorar poesia e pensar fotografando, não cabe mais dentro de mim.
vem a noite
sem escrúpulo
semear trevas
no crepúsculo
de sangue
em toda sombra
há o resto do dia
em toda árvore
silhuetas do medo
em todo medo
a canção do silêncio.
vem a noite
com suas nesgas de luz
onde vespas rodopiam
em serpentina
em todo olhar cerram-se
pálpebras cansadas
em todo beijo
o sabor da despedida
em toda palavra
semitons em surdina.
(...) pinta; mas vê de que maneira pintas...antes busques as cores da tristeza,poupando o escrínio das alegres tintas;- tristeza singular, estranha mágoade que vejo coberta a natureza,porque a vejo com os olhos rasos d´água...Olavo Bilac