11.23.2014

DESVARIO


Tinha, no corpo
o gosto de sopro
de um saxofone lirical.

Tinha no ermo do seu deserto
a sede de camelo,
saliva salobra...

Tinha na música não tocada
os tons dos anjos
e na gosma da garganta,
um enclausurado bemol.

Tinha, vez em quando,
todos os sons gargalhando liras,
juntando tolos fragmentos
como loucos tecendo sonhos...

E por tudo isso,
gaguejava palavras,
tartamudeava sílabas
e se acreditava poeta. 

11.21.2014

LUMINOSIDADE


A tempestade entrou pela casa
e assolou o que havia de frágil:
o vaso de cristal,
a floreira de porcelana,
o amor de vidro,
 e o crisol de barro,
onde moldavam a paz.

Quando amanheceu
reluziram ao sol
os cacos da vida
em desenhos de caleidoscópio. 

11.10.2014

COTIDIANO


Ouso o vôo
e pouso cauteloso
nos vãos do sicômoro.
Repouso a asa
cansada.
Espero o sol,
e ouso de novo
                   outro vôo,
rumo ao arrebol.

11.07.2014

DIFUSA


Não importava o lugar,
a praia, o beco, a biblioteca
ou a rua repleta de andantes;
mas era absolutamente necessário
que fosse noite.

Noite onde os corpos eram pardos
e as imperfeições cobertas pela sombra
da meia-luz de um abajur.

Só então, inteiramente nua,
das vestes e do recato
dançava como quem morre:
duas voltas e meia o compasso.

Calavam-se os cães
enquanto ela ofuscava a lua. 


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