6.27.2009


Quando ouvi, pelo fim do dia, como o meu nome havia sido
recebido com aplausos no Capitólio, ainda assim não foi
feliz para mim, a noite que se seguiu;
E, quando festejei, ou, quando os meus planos foram atingidos,
assim mesmo não me senti feliz;
Mas, no dia em que cedo me levantei, de perfeita saúde,
renovado, cantando, inalando o maduro fôlego outonal,
Quando vi a lua cheia, a oeste, ficando pálida e a desaparecer
na luz da manhã,
Quando vagueei sozinho sobre a praia e, despindo-me, me banhei,
rindo com as águas frias, e vi o sol nascer,
E quando pensei em como o meu querido amigo, o meu amante, estava a
caminho, Oh, então senti-me feliz;
Então, cada fôlego me foi mais doce – e todo o dia, meu alimento
me nutriu mais – e o belo dia passou bem,
E o seguinte chegou com igual alegria – e com o próximo, pelo fim da tarde,
chegou o meu amigo;
Naquela noite, quanto tudo estava calmo, ouvi as águas rolar
continuamente, lentas sobre as margens,
Ouvi o assobio sussurrado do líquido e das areias, como que dirigindo-se a
mim, cochichando, felicitando-me,
Porque aquele que amo dormia comigo sob a mesma coberta
na noite fria,
No sossego, nos outonais raios de luar, seu rosto inclinado
sobre mim,
Seu braço em redor do meu peito, suavemente – e naquela noite
fui feliz.

Whitman

6.22.2009

Em frente à casa velha
de porta e janelas faceando a rua
um velho fumega seu palheiro.
Hospitaleiro e sem alarde,
soa na capela pacífica
o sino da tarde.

Em alguma estação distante,
à esta hora, um trem retorna
e traz o viajante
para os braços da amada.
No telhado corado
à luz da tardinha,
um sabiá arremata seu canto.

Morrem longe
o rumor alegre de fim de feira
e o murmúrio afanoso
do lavrador na aldeia.

Tudo é lida e vagar,
repouso e fadiga,
lanço de escada,
patamar...

Por que então, ó meu Deus,
não dorme nunca em meu peito,
esta alma desassossegada?

6.19.2009

Passaram a dor e o tempo.
Caminhos não há,
mas eu insisto e invento
com esse manancial de lembranças
que teimo em guardar
dentro de mim.

6.16.2009


6.14.2009

Nada vos oferto
além destas mortes
de que me alimento

Caminhos não há
Mas os pés na grama
os inventarão

Aqui se inicia
uma viagem clara
para a encantação

Fonte, flor em fogo,
que é que nos espera
por detrás da noite?

Ferreira Gullar

6.10.2009

eu sou a palavra...
não a que semeia,
mas a que cava

6.09.2009


Deixei alguém nesta sala
que muito se distinguia
de alguém que ninguém se chamava,
quando eu desaparecia.
Comigo se assemelhava,
mas só na superfície.
Bem lá no fundo, eu, palavra,
não passava de um pastiche.
Uns restos, uns traços, um dia,
meus tios, minhas mães e meus pais
me chamarem de volta pra dentro,
eu ainda não volte jamais.
Mas ali, logo ali, nesse espaço,
lá se vai, exemplo de mim,
algo, alguém, mil pedaços,
meio início, meio a meio, sem fim.

Paulo Leminski

6.06.2009

O amor não foi feito para as palavras.
O amor foi feito para o silêncio
porque não pode ser tocado
na sua inteireza e na sua completude.

O amor é para os calados
e os sensitivos.
Não é vento de encontro,
mas aragem que o trigo poliniza;
não é acorde para os ouvidos,
mas sinfonia para o coração.

O amor não se palavriza.

6.02.2009



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