5.29.2009

Assombra-me esse poema silencioso
que chega à porta do pensamento
(como envelope sem endereço)
e implora asilo.

Insinua-se na ponta do lápis
e a palavra, sua mensageira,

a intuir,
vacila um pouco prosa,
um pouco rosa,
sutil e reticente
como a sarça que arde
sem se consumir.

5.28.2009

Que lugar é este
que vem buscar meu sono
e me leva para aquela planura,
onde longe e longe
um fogo pede sustento?

5.27.2009

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca,
tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência,
essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade

5.07.2009


5.05.2009

Tive um pouco de amor na mão aberta.
Quis com ele construir uma mesa,
uma jarra,
um assobio de perturbar fantasmas.
Abriram-me os dedos:
caiu no chão
um montão de palavras inabitáveis.

Egito Gonçalves.

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