4.29.2010

Penetro o poema de água
e sinto sede.
Bebo aos goles
a palavra minada da pedra.
Dos meus haustos aos teus,
medra a beleza
que nos aproxima da fonte...

4.28.2010

DESMANDO

O que eu queria mesmo
era o poder de dominar pensamentos.
Disporia um a um,
enfileirados,
e sob ordem de comando,
exilava-os
para aquela região do cérebro
onde não entram
nem a saudade

nem a poesia.

4.27.2010

s(ONAM)bulo

Um quarto de seis faces
testemunhava a solidão.
Do aparelho de som
a música ritmada
apunhalava as paredes.
A luz baça pendida do teto
deitava cor de névoa
na poeira dos vãos.

Há muito não dormias.
Tinhas sede
e gemias
tomado pela vasca
de alcançar o inatingível.

Nenhum vento perturbava
o ávido trabalho das tuas mãos.

4.24.2010

ODE À CHUVA

Nem Mozart ou Bach
comporiam com maestria
esta melodia andante
na hora morta da madrugada
quando tudo silencia.

Semínimas de cristais
batem na pingadeira
e uma insistente colcheia
malha a calha,
como se o compositor
dormisse os pés nos pedais.

Não há virtuose
(Händell ou Chopin)
capaz de despertar pássaros
com tamanha suavidade,
como esta música
que solfeja a chuva
e arpeja a noite,
acordando a manhã.

4.16.2010

são signos ou hinos
os ecos que sinto
de uma Paris distante,
de um amor que emu(n)deceu...

Powered by Blogger