4.30.2008

4.19.2008

Nem Mozart ou Bach
comporiam com maestria
esta melodia andante
na hora morta da madrugada
quando tudo silencia.

Semínimas de cristais
batem na pingadeira
e uma insistente colcheia
malha a calha,
como se o compositor
dormisse os pés nos pedais.

Não há virtuose
(Händell ou Chopin)
capaz de despertar pássaros
com tamanha suavidade,
como esta música
que solfeja a chuva
e arpeja a noite,
acordando a manhã.

4.14.2008

Pedaço de rosto,
meia impressão
um quase tudo.
Meia rosa,
semi-palavra,
cerrada,
lábios vermelhos.
Contorno a bico-de-nanquim
um quase nada se esvai
pelos folguedos de luz.
Respira em silêncio
muda melodia
de aviltar sonhos,
de estremecer tempos,
de esmaecer lembranças.

Mendes.Neto

4.07.2008




A altercação dos pardais nos beirais ,
A lua cheia redonda e o céu carregado de estrelas,
E a música (canto) alta das folhas que permanentemente cantam,
Tinham escondido a velha e fatigante lamúria da terra.

Então chegaste com esses lábios vermelhos e pesarosos,
E contigo chegaram todas as lágrimas do mundo.
E toda a aflição (o drama) de seus navios nas tormentas,
E toda a aflição (o drama) de seus incontáveis anos.

E agora os pardais guerreando nos beirais,
A lua pálida como coalhada, as estrelas brancas no céu,
E a cantilena alta das inquietas folhas,
Estão estremecidos com a velha e fatigante lamúria da terra.

W.B.Yeats

4.03.2008

Inesperada alegria
ronda os passos matinais
num ensaio de dança.
Uma canção insiste
entre a língua e o pálato.
Ponho o vestido estampado
e os lábios pedem carmim.

Na mesma gaveta
de onde tiro os brincos,
escondo os medos.
Não é tempo de festa,
mas eu queria tanto
coroar meus cabelos
de rosa e jasmim...
Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo
moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.

Adélia Prado

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