6.29.2008

Era uma dessas noites más
com o sono entupido
de pesadelos,
e o chicote da ventania
a fustigar o medo
com os próprios medos.

Era uma dessas noites frias
em que o jovem fervor
saído a passeio.
deixara o pavor emoldurado
entre paredes do quarto,
signo de adeus e desenleio.

Era uma dessas noites vãs
onde a luz difusa
da madrugada
insistia em retardar o dia
pra continuar assim vazia,
antemanhã de nada.

6.28.2008


água e pedra
Penetro o poema de água
e sinto sede.
Bebo aos goles
a palavra minada da pedra.
Dos meus haustos aos teus,
medra a impureza.
Seria pior
não mais
nem menos
indiferentemente
mas tanto quanto.

Mallarmé

6.16.2008


O que me põe aqui
em meio a um jardim que não floresce,
ou à frente da semente que não vinga?
O que me faz perder as horas,
indiferente,
como se soubesse do fim à míngua?
Por que me dói deixar o caos,
como ao cais o navio que singra leve?
Por que essa permanência no desconforto,
que me põe atenta ao inexistente?
Talvez ainda espere...

6.13.2008

Linha invisível
liga-me àquela andorinha:
tato percorrendo um trajeto
de comunhão.
O pássaro debate-se em meu peito.
Ou coração?
A andorinha se esvai na tarde.
Leva consigo o que não sei de mim.

Dora Ferreira da Silva

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