8.27.2009

Tinhas os olhos de um azul
coalhado de ternura
e a boca pródiga de poesia.

8.25.2009

Era uma moça com pureza de água de mina. No primeiro beijo, lá pelas bandas do brejo, sentiu roçar no baixo-ventre a haste contundente do desejo, e alimentou por nove luas a filha do medo que não ousou vingar.

8.21.2009

Tinhas o nome de flor quando partiste.
Trazias entranhado nas pétalas,
todo o perfume das noites
em que semeamos ternura.

Do pistilo dourado de teus dedos,
a brisa conduziu o pólen
para a terra arada pelo tempo.

E eu que esperava a colheita da volta,
amarguei com os espinhos da saudade.
Por certo,
em doloroso processo de enxertia,
tenhas estendido teus ramos
na areia molhada
e uma estrela do mar
é hoje
o teu novo jeito de sonhar.

8.19.2009

Acordou naquele dia,
como só acontece
despertarem os loucos
na lua cheia.

Numa das mãos
segurava a terça-feira
e na outra a boca fechada.

Da mão que detinha o tempo,
as horas vazavam como areia.
Da outra,
a que guardava o silêncio,
palavras sangravam.

8.17.2009

Brota a caliandra da terra escura.
De dentro do par de rebentos,
outro par, tímido, se refilha,
como se não existisse tempo,
como se a vida fosse eterna vigília.

8.14.2009


8.13.2009

a literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida...

Fernando Pessoa

8.07.2009


Pluma irrequieta,
ao feitio de resposta malcriada
que não sossega, impaciente,
carrega-me contigo
na tarde de outono
num vento indolente!

Leva-me para o infinito
até eu me sentir
em profundo azul transmutada.
Olvida o pássaro a quem pertenceste.
faça-me esquecer o amor
a quem me mantive atada.

Ah! Pluma irrequieta!
Se te perderes na tarde do outono,
no vasto céu, ou numa alva açucena,
deixa-me, por favor, de delicada sílfide,
a tua resposta mais amena.

8.06.2009

O vento de agosto desprendia fuligem das telhas,
que caia no chão de tijolo, coberto de rubra cera.
A um canto da cozinha, o fogão reinava absoluto,
pleno da luz do fogo na sua alma enfumaçada.
Na pele, a cobertura de negror de luto.

A lenha já queimada jazia em carvão incandescente,
sem chama, brasa apenas, e estalava, estalava.
Um cinzeiro farto e aconchegante as abrigava.
O tacho na chapa quente segurava a colher de pau,
cansada de mexer e remexer o doce de goiaba.

Havia ainda o café no bule, o leite requentado.
O aroma da carne assada impregnava o casarão.
Do teto, em cordões, pendia a carne de porco,
por meses e meses, em demorada defumação.

Era cálida a tarde de inverno naquela cozinha.
Era silencioso o descansar do fermento na massa do pão.
Era de silêncio também a espera no meu coração,
pelo amor que se consumia sem chama, como o carvão.

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