11.23.2010

SANGUE E AREIA

Acordou naquele dia,
como só acontece
despertarem os loucos
na lua cheia.

Numa das mãos
segurava a terça-feira
e na outra a boca fechada.

Da mão que detinha o tempo,
as horas vazavam como areia.
Da outra,
a que guardava o silêncio,
palavras sangravam.

11.22.2010

IN FINE

Transpôs o limiar da estrela
e brincou de Alice
em cada uma de suas pontas.
Desfiou colar de contas
e deu pérolas aos porcos.
Ouviu o diz-que-diz-que
de anjos roucos,
e dormiu com os mortos.
Por fim descobriu

que são raros os sonhos
além do apocalipse.

11.10.2010

ARTESÃO

O que me tornou assim
permeável
como naco de pão
molhado no leite,
com esta complacência
beirando a humildade
e esta renúncia
quase total
das coisas que perdi?

Talvez o sofrimento,
este mestre
de atrevimento,
manipulador das sombras
e das luzes,
que permeiam
calçadas e roseirais,
trigais e cruzes...

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