Subamos! Subamos acima Subamos além, subamos Acima do além, subamos! Com a posse física dos braços Inelutavelmente galgaremos O grande mar de estrelas Através de milênios de luz.
Subamos!Como dois atletas O rosto petrificado No pálido sorriso do esforço Subamos acima Com a posse física dos braços E os músculos desmesurados Na calma convulsa da ascensão.
Oh, acima Mais longe que tudo Além, mais longe que acima do além! Como dois acrobatas Subamos, lentíssimos Lá onde o infinito De tão infinito Nem mais nome tem Subamos!
Tensos Pela corda luminosa Que pende invisível E cujos nós são astros Queimando nas mãos Subamos à tona Do grande mar de estrelas Onde dorme a noite Subamos!
Tu e eu, herméticos As nádegas duras A carótida nodosa Na fibra do pescoço Os pés agudos em ponta.
Como no espasmo.
E quando Lá, acima Além, mais longe que acima do além Adiante do véu de Betelgeuse Depois do país de Altair Sobre o cérebro de Deus
Num último impulso Libertados do espírito Despojados da carne Nós nos possuiremos.
E morreremos Morreremos alto, imensamente IMENSAMENTE ALTO.
Segunda De poetas e filósofos tu sabes, sabes também por ti. Por isso eu digo : esta pedra é vermelha, esta pedra é sangue. Toca-lhe : saberás como em segredo florescem as acácias ao redor dos muros, como fluem suas concêntricas artérias. Acaricia-as : tocas a parte mais sensível de ti mesmo. Dizias ontem que o verão ardia nesta pedra. Nela queimavas tuas mãos. Onde as aqueces hoje? Eu digo : o verão não morreu, esta pedra é o verão. E tudo permanece. E tudo é teu. Tu és o sangue, o verão e a pedra.
Amor amado, que no vão da caixa Te resguardas. Como é belo completar-te assim, Tão cheio de poeira e esquecimento. Resguardado em linhas de cartas, És configurado de confissões e de palavras antigas. Frutos afoitos que já estão quietos, Apodrecendo de tanta maturidade! Já não possuis a ansiedade de tua mocidade. O que tens é esta atmosfera de segredo Que se revela aos poucos. Cada palavra que se levanta Deste papel empoeirado É um osso que se junta aos poucos Para recompor o corpo que já se foi do tempo. O amor não morre, Vira palavra.
Além do mundo, onde choram os inconformados... Além da desesperança, um casulo... Um casulo de intrincada trama, tecido pela taturana, por proteção ou esconderijo. Em tempo ninfal, a crisálida aguarda no estado de larva. Logo virá a borboleta de matizes diurnos a confundir-se com as flores do quintal. Além do mundo, onde aderna e miséria, além da comédia ou da dor extrema, um poema... Um poema de invólucro filamentoso onde eu crisálida, me alijo (lagarta intemporal), por tessitura ou bravata. Logo virá a poesia nascida do estado letárgico. Ninfa noturna de hábito matinal.
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